Entrevista a Minéa Paschoaleto Fratelli, Secretaria Municipal de Educación en São Caetano do Sul / São Paulo – Brasil
Minéa, atualmente, é Secretária de Educação de São Caetano do Sul e ex-secretária Adjunta da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP). Foi Coordenadora Geral da Coordenadoria Pedagógica – COPED – da SME e, na época, coordenou as políticas e as ações voltadas ao Currículo, Avaliação e Formação de Educadores da Rede Municipal de Educação. Além de Pedagoga, especialista em alfabetização, Minéa é Mestre e Doutora em Educação na área de Políticas Públicas Educacionais. Como pesquisadora, integra o Grupo de Pesquisa Fundamentos Epistemológicos das Políticas Educacionais (GRUFEPE) do CNPq (Brasil) e, profissionalmente, atua na educação pública municipal há mais de 20 anos.
Fazer a gestão da educação é uma tarefa desafiadora. Poderia dizer o que entende ser essencial para que haja, de fato, uma gestão qualificada e que tenha condições de implementar a política pública educacional?
Uma gestão qualificada envolve, a meu ver, em primeiro lugar planejamento. Organizar um planejamento estratégico para a gestão permite pensar a política educacional em curto, médio e longo prazo. Além disso, não podemos esquecer que há, também, o tempo da gestão, que é datado. As crianças estão na escola hoje e a política pública precisa ter impacto imediato. Programas específicos, metas claras, avaliação e monitoramento são essenciais.
Além disso, a educação é feita por e para pessoas. Nenhum projeto se materializa se, de fato, não houver construção colaborativa e engajamento da equipe. A escuta ativa não pode estar só em nosso discurso, para que as equipes das escolas a vivenciem com familiares e estudantes. Isso precisa ser uma premissa do nosso trabalho como parte da gestão democrática.
Vale ressaltar outro aspecto que é um diferencial: quando o governo torna a pasta da educação uma das prioridades da gestão, as possibilidades de ação ficam mais abrangentes.
Para que a política seja implementada, é preciso que haja esforços múltiplos, inclusive das equipes gestoras e docentes. Como é possível realizar essa tarefa?
A implementação da política envolve currículo estruturado, formação, avaliação e monitoramento. Na cidade de São Caetano do Sul há uma documentação curricular organizada, a partir dos documentos historicamente existentes a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o que subsidia os outros aspectos.
A formação em serviço e contínua, de professores se faz necessária para que ação-reflexão-ação, ou a reflexão sobre a prática, proposta por Paulo Freire, possa se efetivar na escola. Por meio dela é possível retomar registros e práticas no sentido de refinar o fazer docente e aprimorá-lo de modo que sejam garantidos os direitos de aprendizagem a bebês, crianças e jovens. E essa ação é coletiva. Ser professor é um ato coletivo na relação com seus pares e com os estudantes.
A cadeia formativa, conceito de Beatriz Bontempi Gouveia e Vera Maria Nigro de Souza Placco, é uma estratégia que permite que a formação seja realizada por todos os profissionais da escola, garantindo sua universalização. As formações optativas são muito importantes, mas vale apostar na formação continuada na escola, entre os pares, com a orientação do coordenador pedagógico.
Outro aspecto basilar é a valorização profissional. Carreira estruturada e pagamento do piso salarial, que parecem algo óbvio dada a legislação, precisam ser pontos de atenção das Redes.
Quais mudanças foram realizadas que você considera de destaque?
Em São Caetano do Sul indico três delas.
Instituímos o processo seletivo para a equipe gestora e a supervisão escolar de modo a garantir mais qualidade no trabalho realizado. Ademais, há formações específicas para esses profissionais.
Também houve um olhar para a educação infantil que só contava com dois profissionais: o diretor e um professor auxiliar. Foi realizada alteração na constituição, contando agora com diretor, assistente de direção e coordenação pedagógica.
Uma gestão bem estruturada e formada é um diferencial na escola.
Quais impactos a organização da gestão têm na garantia das aprendizagens das crianças. Há ainda algo que precisa ser feito?
Sempre penso que professor precisa estar feliz e desejoso. Não basta somente a valorização financeira, que é primordial, mas um professor bem formado e conhecedor faz toda diferença em sala de aula. Por isso a necessidade da formação em serviço, como falamos.
Algumas mudanças como diversificação e ampliação de aulas na matriz curricular, investimento em tecnologia e o olhar para as metodologias têm ampliado as possibilidades dos professores e oportunizado vivências diferenciadas para os estudantes. No ano de 2023 as crianças e jovens passaram a contar com aulas de inglês desde o primeiro ano, práticas leitoras e tecnologia.
Claro que ainda precisamos avançar. Sempre é possível melhorar na educação. Creio que um aspecto que merece atenção é a gestão democrática. Especialmente após a pandemia, dialogar e tomar decisões coletivas têm sido um desafio. A efetivação do projeto educativo para essa geração passa pelo olhar atencioso e trabalho colaborativo de educadores e familiares.
Fale um pouco mais sobre esse fortalecimento
Quanto mais profissionais forem as ações desenvolvidas na escola, melhor se dará o processo democrático. E isso passa pelo profissionalismo e pela retomada da essência do servidor público.
Ter os familiares na escola requer trabalho organizado, discussões e capacidade para lidar com a diversidade de opiniões, conhecimentos e culturas. É um projeto a ser vivenciado e construído, pouco a pouco.
Prof. Dr. Nonato Assis de Miranda
Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)