Entrevista feita com Julio Cesar Ribeiro da Silva, Diretor escolar em Araraquara/São Paulo – Brasil

Especialista em Didática do Ensino de História. Possui Bacharelado e Licenciatura Plena em História pelo Centro Universitário de Araraquara - Uniara (1997). Possui graduação em Bacharelado em Letras e graduação em Licenciatura Plena em Letras (2005) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP Araraquara. Ingressou no magistério como professor eventual na Rede Estadual em 1995. Na Rede Municipal de Araraquara, ingressou como professor efetivo em 2004. Atuou como Professor Coordenador pela Prefeitura Municipal de Araraquara na Escola do Campo Eugênio Trovatti (Distrito de Bueno de Andrada) e, desde 2010, recebe treinamento do Sistema Sesi de Ensino. Atuou como Coordenador na Educação de Jovens e Adultos de 2006 a 2012 e foi Diretor de Cultura do Município de Matão entre os anos de 2017 e 2018. Exerce atualmente a função de diretor escolar na Escola Municipal Ruth Villaça Corrêa Leite Cardoso.

 

Você é gestor de uma escola municipal. Como você descreveria a sua função dentro deste sistema municipal?

No município de Araraquara, estado de São Paulo, o Diretor de Escola Municipal atua na Educação Infantil, no Ensino Fundamental, no Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos ou nos Centros de Educação. Hoje, atuo em uma EMEF - Escola Municipal de Ensino Fundamental. Minha função, em suma, inclui atender as demandas da Secretaria Municipal da Educação e da Comunidade Escolar como um todo, alunos e seus familiares, servidores públicos municipais e trabalhadores terceirizados, assim como demandas de setores formais e informais que acabam atuando junto à Escola. Estou responsável por coordenar, organizar e monitorar as atividades desenvolvidas no âmbito da Unidade Escolar, para a execução eficaz da política educacional do sistema de ensino.

Qual é o seu público-alvo, ou seja, quais alunos você recebe na escola?

Atualmente, há 490 (quatrocentos e noventa) alunos do 1° Ano ao 9° Ano do Ensino Fundamental matriculados na Escola Municipal onde atuo; dos quais, 11 (onze) são venezuelanos. De um universo de quase 500 alunos, quase 100 crianças vivem com famílias que têm renda per capta abaixo ou próxima à linha da pobreza. Conforme pesquisa socioantropológica realizada pela própria Escola em 2023, 20% dos alunos viviam com renda familiar abaixo de 01 salário-mínimo, e cada pessoa, incluindo a criança, recebia pouco mais de US$ 2,00 (dois dólares) por dia. A razão seria algo em torno de R$10,00 (dez reais) diários por membro da família: uma família com quatro pessoas receberia R$1200,00 (mil e duzentos reais) mensais à época, algo em torno de R$300,00 (trezentos reais) por mês, por pessoa; 37% dos alunos viviam em famílias com renda mensal bruta de 01 a 02 salários-mínimos; 28%, entre 02 e 03 salários; 11%, entre 03 e 04 salários, e 04% possuíam renda acima de 04 salários.

Qual é o maior desafio gerencial da sua escola?

Pela legislação municipal, Lei n. 9.801, de 27/11/2019, que instituiu o Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) da Educação Pública Municipal de Araraquara, o Diretor de Escola estaria na “categoria de suporte pedagógico”, sendo um emprego público de provimento efetivo do quadro de profissionais do magistério. No Brasil, há algum tempo, o Conselho Nacional de Educação (CNE) vem debatendo Competências Gerais e Específicas do Diretor de Escola. Pelo colegiado nacional, há quatro dimensões a serem trabalhadas e dominadas pelo Diretor de Escola, a saber: (1) Dimensão Político-Institucional, (2) Dimensão Pedagógica, (3) Dimensão Administrativo-Financeira e (4) Dimensão Pessoal e Relacional. Creio que meus maiores desafios estão em conciliar essas quatro dimensões no dia a dia, em uma Escola que nem sempre tem os recursos humanos e financeiros necessários, em uma rede em que as funções públicas não são todas bem definidas e consolidadas.

Que tipo de atividade formativa você sente falta para desempenhar a sua gestão nesta escola?

A definição institucional das atribuições de todos os empregos públicos do quadro do magistério, por meio da regulamentação das leis municipais que regem o assunto, são necessárias para que as atividades formativas no âmbito do município partam de um parâmetro legal e visem a consolidação das funções desses profissionais, a serem constantemente formados. A formação continuada em serviço dos Profissionais da Educação, como prevê o artigo 61 da LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9394, de 20/12/1996, é também essencial, uma vez que para desempenhamos uma gestão escolar de qualidade todos devem saber os seus papéis profissionais e executá-los com presteza, o que nem sempre acontece no cotidiano de uma Escola. Por fim, em uma atividade formativa constante, o desafio seguinte seria o trabalho em equipe, com profissionais bem treinados, que unissem a teoria e a prática.

Você gostaria de complementar a entrevista com algum comentário?

Quero, destacadamente, agradecer essa oportunidade de reflexão e fala. Estou como Diretor Escolar há seis anos; porém, há 30 anos no Chão da Escola Pública Brasileira. Percebemos que muitas políticas educacionais são políticas de governos e não políticas de Estado, as descontinuidades das diretrizes educacionais e as atividades formativas descontextualizadas da História Latino-Americana contribuem, por sua vez, para os projetos de não-nação e de não-desenvolvimento das pessoas humanas. É preciso resistir.

 

José Luis Bizelli
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Araraquara

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